Aquela insistente pergunta acompanhada de uma resposta alheia
bate a porta do meu próprio discernimento. Quem sou é modelado pelo que as
pessoas vêem em mim. Quem sou? Sou o que precisar, irmã mais velha, filha
revoltada, cantora de chuveiro, esposa meio Amélia, faxineira se faltar.
Um final de semana incrível pode ser esquecido, diminuído até
que se transforme num resquício de lembrança boa, em prol dos que querem que hoje
eu seja a “faz tudo”, a experiente e confidente, a possessa ou drogada, a
boemia amanhecida, a ajudante de serviços gerais.
Parece um disco arranhado esta realidade. Temo que já tenha
tido esta sensação antes, quem sabe mais de uma vez. De fato vi. Passo metade
do meu tempo pensando que sou um rato, roendo deste queijo farto que é esta
realidade programada. A outra metade gasto tentando provar a mim mesma que tiro
um teco somente do que tem sabor ao meu paladar.
Porque teimam em me justificar, me oferecem tarefas que
insisto: Não sou eu, não tem nada a ver comigo! Acreditam que me conhecem e é
justo e fico entre lá e cá, suas verdades tornam-se quem sou e, como quem
acometido por ser conhecido, padeço do mal de ver a vida que vivo através das
lentes dos óculos de Sofia.
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