segunda-feira, 25 de abril de 2011

Metade - uma prece

Quando eu era mais nova, em minha adolescencia, adorava brincar de inventar poesias em cima daquelas que eram minhas favoritas, de autores que gostava.
Abaixo, uma destas brincadeiras.


Que o sentimento do mundo corra em minhas veias e sopre em minh'alma
porque metade de mim é razão e a outra metade palpita em meu ser

Que tudo que seja efemero morra a cada dia
o que sobrar disso eu levo pelo infinito
porque metade de mim é ilusão e a outra metade - que seja - Deus

Que aquilo que é simples seja ao menos perfeito e o que for complicado se desfaça
porque metade de mim - minhas mãos -
E a outra metade toda vontade de sonhar

Que o amanhecer traga consigo a razão de um novo dia
O entardecer a certeza e que vivo
porque metade de mim é luz e a outra metade esperança

Que eu não crie dentro de mim espaços
que crie portas porque metade de mim é o que eu sou e a outra metade é projeção
do que quero ser

Que eu não seja este hoje
suspirando por ontem
desejando o amanhã
porque metade de mim e presente e a outra metade sem limite no tempo

Que eu não diga: o mundo é belo e a vida rápida
porque metade de mim é o que não vejo e  a outra metade limitações

Que na vida eu trave cada bom combate sem limites de tempo ou idade
porque metade de mim é mistério e a outra metade milagre

E por fim que eu viva com entusiasmo cada dia
Me deslumbre diante das imagens, paisagens, passagens
Sinta alegria por minhas batalhas
porque metade de mim é o que disseram ser 
a outra metade, uma velha amiga

E por início - como tudo tem de ter -
que eu não seja uma oração que tarda
porque metade de mim é caminho e a a outra metade se faz ao andar 

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A delicada relação entre mulheres de trinta anos e suas batas. Um texto que foge do real propósito deste blog, sob a perspectiva de uma usuária do produto em pauta.

Na verdade, poderia afirmar quase que com certeza: A relação com nossas queridas batas torna-se frágil e instável a partir dos 28.
Quando estamos prestes a fazer trinta anos – ainda mais se formos casadas – pronto! Aposentem suas batas, ou então, estejam certos de que devem ter em mente diversas respostas na ponta da língua para dar aos desavisados de que sim: é moda a várias estações, confortabilíssima, deixa-nos não tão livres e descomprometidas, mas obviamente leves e soltas, e não, não usam batas apenas mulheres que estejam grávidas.
Trinta, e lá se vão os anos maravilhosos de leveza.. sem apertos na barriga, seios livres, aos menos de blusas apertadas, já que a nossa cultura nos presenteou com sutiãs.
Caramba! Apenas queremos andar pelas ruas e sermos surpreendidas por uma brisa mansa e afável na América do norte – levando em consideração é claro, que o resto são países baixos.
Sei pouca coisa sobre moda, na verdade a maior dica que tento seguir, é a mesma que uso para decorar cada cantinho de minha casa: Como me sentirei bem? E porque não, como se sentirão em minha casa, dentro dela.
Ainda assim a informação que encontrei é de que a bata surgiu na idade média como uma peça para ser usada debaixo dos vestidos e do século XVIII a diante tornou-se peça externa como uma camisola, até o que conhecemos hoje.
Não faço idéia se isso procede.
Mas tentarei ao menos isso: Caros vizinhos, colegas de churrasco, amigas das quais pouco temos notícias– quem precisa de paparazzi com todo este BBB a céu aberto –: Se, e entendam bem esta parte “SE” for gravidez, as adeptas das batas, possivelmente dirão, se for você alguém que convenha saber.  
Homens Nerds: as batas são tão larguinhas e confortáveis que cabe até um biquininho da princesa Léia ali em baixo podendo realizar aquele seu fetiche, viu..
Homens apenas: já tem tanta coisa apertada pra tirar na hora H, não acham...
Mulheres: escolham suas batas..têm modelo para agradar de ripongas a clássicas.
Olha a Maísa na foto abaixo toda poderosa usando o que?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Bride and Prejudice

Isso mesmo. Eu não me enganei e escrevi errado. Bride and prejudice é uma produção bollywoodiana, baseada no Romance de Jane Austen Pride ande Prejudice.
Particularmente, prefiro a adaptação de 2005 com Matthew Macfadyen.
Mas adoro novas propostas e misturas de cultura. Ficou um filme legal.
Lalita, personagem de  Aishwarya Rai atriz, cantora e modelo indiana, faz as vezes de Elizabeth Bennet.
No mínimo interessante.

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De repente, temo como Frei Genebro àquele prato negrejante mais que carvão, que receberá o peso de minhas obras más

Frei Genebro é o nome de um conto de Eça de Queirós, sobre um frade que foi para o purgatório.
A obra é simples se determinada por uma frase.
O diferente nela é indubitavelmente a maneira como contada. Eça de Queiroz não poupa palavras na descrição de sentimentos, objetos e lugares. Mas o faz de modo apaixonante, sem precisar colocar o romance de um casal no meio da história, coisa corriqueira, já que o universo lúdico sempre traz estas propostas.
Frei Genebro é um homen de Deus como quase nunca se ve. Devoto e temente.
Aprecio a parte pequenina que diz: A sua penitência, durante
vinte anos de claustro, fora tão dura e alta que já não temia o
tentador; agora, só com o sacudir da manga do hábito,
rechaçava as tentações, as mais pavorosas ou as mais
deliciosas, como se fossem apenas moscas inoportunas”.
O que seriam “as mais deliciosas tentações” para Frei Genebro?
Comida, afora suas poucas ervas?
Uma amiga da adolescencia da qual gostara e vez ou outra pede que lhe escreva? – vê o lúdico do qual falava acima insistentemente entrando em ação, rsrsrs -.
O cançasso pela oração durante o claustro?
Se me perguntasse quais seriam as minhas deliciosas tentações, provavelmente teria muitas respostas, mesmo tentando viver num bom caminho, meus atos desagradam a muitos, já nem sei se é o que falo ou, se porque falo.
Óh Deus, sim. Minhas tentações poderiam ser diversas talvez, mas com certeza o que eu temo mais é ser a deliciosa tentação de alguém. Frei ou não. E assim, ter de ser expulsa como uma mosca inoportuna qualquer. Com o silencio do ser tentado em troca.
Dizem haver na história de Frei Genebro duas morais: Em uma primeira as más ações que cometemos sem nos dar conta de que assim sejam, e que podem trazer consequencias muito negativas.
A segunda, de que não seriam as boas ações as mais importantes de fato, mas sim que não sejam cometidas más ações.


Link para texto na íntegra:

Se aquela geração era coca-cola, qual é o nome dessa.


Há alguns dias atrás, semanas talvez, assisti a um programa Café Filosófico da TV Cultura em que o convidado era um filósofo que já não lembro o nome. Peguei os dois últimos blocos, e nestes, ele falava sobre o crescente comércio da diversão, um dos que mais faturam no mundo e de algum modo ligou isso a maior causa de morte da atualidade: O suicídio.
Seus dados propunham a maior concentração dos casos de morte por suicídio entre homens adultos. Talvez, explicava ele, porque os homens em nossa cultura são sempre os que trabalham, nutrem os filhos com seu esforço e também suas casas e com a chegada da aposentadoria, eles se veem sem muito objetivo e a vida então perde o sentido.
O segundo maior grupo, seria de jovens, pois veja que enquanto os mais velhos perdiam o sentido da vida, estes jovens não o haviam encontrado sentindo-se frustrados ao ponto de não quererem mais viver.
Lembro-me bem deste programa, porque na manha daquele dia, havia comentado com meu esposo sobre o quanto achava estranho às vezes, não termos um grande grupo de amigos, e o questionava naquela nossa conversa se não seríamos de difícil acesso no âmbito sentimental para outras pessoas, já que ao nosso redor a maior parte de nossos poucos colegas cultivam um extenso ciclo de amizades, tendo sempre suas agendas muito cheias de compromissos vazios e festivos. Este parece ser o tal Sentido para eles. E, agindo de maneira diferente, qual seria o nosso.
Dito algumas coisas, chegamos a – pessoal e intransferível – conclusão de que somos do tipo de gente que precisa definir – e defini – quem são apenas colegas e quem de fato são amigos.
Aos colegas dizemos olá quando nos encontramos pela rua do bairro, ou mesmo naquele churrasco de fim de semana de um amigo em comum. Aos amigos destinamos convites de virem a nossa casa. Obviamente, isso explica a diferença dos números.
Entre os pensamentos propostos pelo filósofo e minha indagação, vem a pergunta: O que faz uma pessoa que cultiva tantos amigos, num fim de semana mais tranquilo, ou naquele fim de mês quando a grana está curta e não se pode comprar aquela diversão preferida?
O tal filósofo, expondo todas estas ideias aparentemente distintas num primeiro momento, provavelmente queria nos levar a questionar, filosofarmos nós mesmos sobre esta pergunta ou qualquer outra que irrefutavelmente este assunto nos leve a ter. A questão aqui talvez não seja acharmos a resposta de qual seja o Sentido, mas o porquê do questionamento exaustivo e degradante muitas vezes do próprio Sentido em si¹. Aliás, ele sugere que nas escolas, por exemplo, somos levados a aprender que a terra é redonda, mas não a porque é preciso saber disso.
Para nós, apesar de muitas vezes ser bem difícil destacar-se apenas por ser diferente em meio à multidão, um bom numero de datas vazias na agenda, não ter nada marcado com outros, é fonte de ócio produtivo, criativo e prazeroso. Mas é óbvio que isso gera uma porção de dúvidas. A gente se sente diferente e vemos a atitude das pessoas nos respondendo que realmente somos. A felicidade está tão enlatada, tão globalizada e sinto-me imensamente desconfortável por que já não sei se isso é bom.
O filósofo não propôs negação à diversão, nunca mais ir ver o seu time jogar e concordo com ele quando disse ser importante. Mas ela não pode tomar a forma de nosso poder de compra, de influencia sobre o nosso grupo de amigos, ou qual o tamanho deste grupo.
Às constatações do filósofo, junto o fato de que são os países de primeiro mundo, desenvolvidos e com maior poder de compra da população, a liderarem o ranking de maior concentração de vítimas² de suicídio.
De forma alguma tenho a intenção com este texto de ditar regra social – o mundo não precisa de mais outra- ou levantar a bandeira do não ao consumismo. Mas sim, acredito que temos um dever a cumprir com nossa saúde corporal e mental. O mundo globalizado tem seus méritos, mas nós não devemos globalizar as vidas como se fosse uma apenas. Não somos produção em série de qualquer coisa, não somos pessoas numa esteira de um moedor de carne e definitivamente precisamos ouvir músicas de melhor qualidade.
Nossas agendas lotadas presenteiam e alimentam nosso ego de ser dominate deste mundo. Qual será o nosso presente pessoal? Aquele de nós para nós mesmos e que alimentará nosso espírito, nosso coração.
Só não quero ver um mundo que enfrente uma epidemia de psicopatas, sociopatas ou burgueses emergentes. Quem sabe, rir com a ”Geração coca-cola”, não ser “Another brik in the wall” e celebrar a “Perfeição”.
                

1 - Na série literária The Hitchhiker's Guide to the Galaxy, ficção científica criada por Douglas Adams, é sugerido de forma cômica que talvez fosse importante para aproveitar melhor a existência ser menos baleia e mais balde.
2 - O termo vítima vem do latim victimia e victus, vencido, dominado. No sentido originário, vítima era a pessoa ou animal sacrificado aos deuses no paganismo. Atualmente, a palavra vítima se estende por vários sentidos. No sentido geral, vítima é a pessoa que sofre os resultados infelizes dos próprios atos, dos de outrem ou do acaso.