sexta-feira, 8 de abril de 2011

Se aquela geração era coca-cola, qual é o nome dessa.


Há alguns dias atrás, semanas talvez, assisti a um programa Café Filosófico da TV Cultura em que o convidado era um filósofo que já não lembro o nome. Peguei os dois últimos blocos, e nestes, ele falava sobre o crescente comércio da diversão, um dos que mais faturam no mundo e de algum modo ligou isso a maior causa de morte da atualidade: O suicídio.
Seus dados propunham a maior concentração dos casos de morte por suicídio entre homens adultos. Talvez, explicava ele, porque os homens em nossa cultura são sempre os que trabalham, nutrem os filhos com seu esforço e também suas casas e com a chegada da aposentadoria, eles se veem sem muito objetivo e a vida então perde o sentido.
O segundo maior grupo, seria de jovens, pois veja que enquanto os mais velhos perdiam o sentido da vida, estes jovens não o haviam encontrado sentindo-se frustrados ao ponto de não quererem mais viver.
Lembro-me bem deste programa, porque na manha daquele dia, havia comentado com meu esposo sobre o quanto achava estranho às vezes, não termos um grande grupo de amigos, e o questionava naquela nossa conversa se não seríamos de difícil acesso no âmbito sentimental para outras pessoas, já que ao nosso redor a maior parte de nossos poucos colegas cultivam um extenso ciclo de amizades, tendo sempre suas agendas muito cheias de compromissos vazios e festivos. Este parece ser o tal Sentido para eles. E, agindo de maneira diferente, qual seria o nosso.
Dito algumas coisas, chegamos a – pessoal e intransferível – conclusão de que somos do tipo de gente que precisa definir – e defini – quem são apenas colegas e quem de fato são amigos.
Aos colegas dizemos olá quando nos encontramos pela rua do bairro, ou mesmo naquele churrasco de fim de semana de um amigo em comum. Aos amigos destinamos convites de virem a nossa casa. Obviamente, isso explica a diferença dos números.
Entre os pensamentos propostos pelo filósofo e minha indagação, vem a pergunta: O que faz uma pessoa que cultiva tantos amigos, num fim de semana mais tranquilo, ou naquele fim de mês quando a grana está curta e não se pode comprar aquela diversão preferida?
O tal filósofo, expondo todas estas ideias aparentemente distintas num primeiro momento, provavelmente queria nos levar a questionar, filosofarmos nós mesmos sobre esta pergunta ou qualquer outra que irrefutavelmente este assunto nos leve a ter. A questão aqui talvez não seja acharmos a resposta de qual seja o Sentido, mas o porquê do questionamento exaustivo e degradante muitas vezes do próprio Sentido em si¹. Aliás, ele sugere que nas escolas, por exemplo, somos levados a aprender que a terra é redonda, mas não a porque é preciso saber disso.
Para nós, apesar de muitas vezes ser bem difícil destacar-se apenas por ser diferente em meio à multidão, um bom numero de datas vazias na agenda, não ter nada marcado com outros, é fonte de ócio produtivo, criativo e prazeroso. Mas é óbvio que isso gera uma porção de dúvidas. A gente se sente diferente e vemos a atitude das pessoas nos respondendo que realmente somos. A felicidade está tão enlatada, tão globalizada e sinto-me imensamente desconfortável por que já não sei se isso é bom.
O filósofo não propôs negação à diversão, nunca mais ir ver o seu time jogar e concordo com ele quando disse ser importante. Mas ela não pode tomar a forma de nosso poder de compra, de influencia sobre o nosso grupo de amigos, ou qual o tamanho deste grupo.
Às constatações do filósofo, junto o fato de que são os países de primeiro mundo, desenvolvidos e com maior poder de compra da população, a liderarem o ranking de maior concentração de vítimas² de suicídio.
De forma alguma tenho a intenção com este texto de ditar regra social – o mundo não precisa de mais outra- ou levantar a bandeira do não ao consumismo. Mas sim, acredito que temos um dever a cumprir com nossa saúde corporal e mental. O mundo globalizado tem seus méritos, mas nós não devemos globalizar as vidas como se fosse uma apenas. Não somos produção em série de qualquer coisa, não somos pessoas numa esteira de um moedor de carne e definitivamente precisamos ouvir músicas de melhor qualidade.
Nossas agendas lotadas presenteiam e alimentam nosso ego de ser dominate deste mundo. Qual será o nosso presente pessoal? Aquele de nós para nós mesmos e que alimentará nosso espírito, nosso coração.
Só não quero ver um mundo que enfrente uma epidemia de psicopatas, sociopatas ou burgueses emergentes. Quem sabe, rir com a ”Geração coca-cola”, não ser “Another brik in the wall” e celebrar a “Perfeição”.
                

1 - Na série literária The Hitchhiker's Guide to the Galaxy, ficção científica criada por Douglas Adams, é sugerido de forma cômica que talvez fosse importante para aproveitar melhor a existência ser menos baleia e mais balde.
2 - O termo vítima vem do latim victimia e victus, vencido, dominado. No sentido originário, vítima era a pessoa ou animal sacrificado aos deuses no paganismo. Atualmente, a palavra vítima se estende por vários sentidos. No sentido geral, vítima é a pessoa que sofre os resultados infelizes dos próprios atos, dos de outrem ou do acaso.

Um comentário:

  1. Realmente faz todo o sentido. Pena que muitas vezes a racionalidade não é um dom normalmente presente quando estamos prestes a cometer deslizes.
    Um forte abraço!

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