Os nossos fantasmas às vezes aparecem; convidados inoportunos do passado, teimando em prosa velha, criando-nos por vezes uma doce ilusão de que aprendemos a ter controle de algo. Amarga hipocrisia.
Sento-me à mesa perto desta velha janela, olhando para todas as coisas, tudo parece mais próximo de mim e imagino se há alguém noutra janela pensando a mesma coisa de modo que talvez, espiritualmente nosso mundo se encontre. Não sei se faço isso porque sinto-me só neste mundo, ou porque vivo em um mundo tão particularmente meu, entre tantos.
Mas é com a amante idéia dessa outra janela, que inundo meu coração de esperança para que não seja nenhuma destas hipóteses e eu não esteja de fato assim tão só.
E o que ouves de lá?
Como é a luz que pode enxergar?
Qual o seu tom predileto dentre todos os verdes que pode ver dela?
Se desejarmos profundamente será que poderemos nos enxergar através dos cheiros, dos ventos, do tempo, até que nossas almas perdidas possam se encontrar neste caminho mágico e silencioso que ligaria tua janela a minha, até que se recompunham, tornando-se uma alma apenas como um dia devem ter sido.
Temo que a paisagem de minha janela esteja mudando. A cada dia torna-se mais difícil extrair dela algum sabor.
Por favor, me diga que está aí. Eu preciso vê-la e todo este seu mundo que de certo trará boas lembranças do meu. Não posso apenas acreditar em meu coração. Quando só, sente algo através dele não é o mesmo que acreditar apenas numa lembrança?
Eu te peço perdão por ainda ter esperanças de que você as tem também. Que me imagina, e que verdadeiramente da sua janela me observa chegar.