quarta-feira, 2 de março de 2011

A história de Amélia, de Maria...

O que é a separação?
Tantas gerações e a mesma indagação.
Como passar por isso?
Nossos pais, nossos ascendentes, alguns por sua vez, ratinhos de igreja, nos ensinam o quanto o casal deve se respeitar, o quanto cada um deve sacrificar com o sagrado matrimonio. Nenhum nos ensina, mesmo com suas próprias decepções e desilusões, como é viver sozinho após a experiência conjugal.
Sofrer é sacrificar-se. “até que a morte nos separe”. Ora, matem-se! Nada dá certo quando o assunto requer as duas opiniões
Eis que esta é a nossa herança: A resistência as nossas vontades. Porque perguntar-se se pode viver melhor? Fez tua escolha, leva tua “cruz”.
Em minha adolescência escolhi – e digo que escolhi porque todo adolescente tem uma causa -  como ponto de partida de minha revolta a seguinte questão: Se eu poderia conviver com mãe, as tias e tantas outras Amélias e Marias arrumando a mala para ir embora, começar outra vida longe do matrimonio, acho que ficou claro até aqui o que elas tentavam fazer, mas para que não haja dúvidas, deixando seus maridos para trás e tornar uma “página virada” o casamento, porque eu não poderia “me separar” das pessoas que eu não gostava, que eu não dividia de metade das opiniões, que eu não tinha – como colocam hoje nos registros de separação? – compatibilidade de gêneo.
Eu queria me separar de meu pai, juntei nos anos da puberdade todas as lembranças dolorosas das Marias que conheci, as fotos pornográficas que achara em sua mala, todos seus pequenos delitos suavizados pelo passar dos anos, e iria requerer meus direitos assim que fosse – segundo ele mesmo - petulante o suficiente. E fiz.
Hoje, mais de dez anos passados, e cá estou eu na sofreguidão - isso requer uma dramatização -  de fazer a mesma pergunta, aquela que muitos já se fizeram, e que inicia todo este meu desabafo, este “rasgo” de palavras.
Casada a vinte anos e poucos meses com um cara que namorei por Três, antes da primeira vez que terminamos e dois após. Desde a semana anterior do casamento tivemos sinais de que daria nisso. Para falar a verdade, as vezes me pego com lembrança dos quatro meses de namoro e aquela pressão no meu estomago. Ah´, hoje eu tenho gastrite, tendinite e quantos ites mais seja possível, se não morrer disso, morro com isso, eu acho. E agora, prestes a completar quarenta e cinco, sinto palpitações esquisitas no meu coração toda vez que fico nervosa. Parece um engasgo. Eu sei o que não desce.
Ele e eu fizemos uma espécie de pacto em nossos “anos bons”: nunca fazer daquele sim, um sim para o resto da vida. Tínhamos de dizer sim – com avaliação íntima do porque que o fazíamos – a cada dia de nossas vidas juntos.  Algumas brigas atrás e tudo parecia mais fácil. Hoje temos uma coleção delas a nos acompanhar, nos fazer sofrer, questionar o que já sabemos a resposta.
Esta é a segunda vez que anoto em minha agenda pessoal os cálculos financeiros de como é viver sozinha. Meu jeito de sofrer é diferente. Já me peguei tentando forçar uma lagrima para fazer entender que eu também sofria. Não sai, não desce uma. Enquanto escrevo
perguntas como “com qual de nós ficara o cachorro?” insistem em me dispersar da lógica, se é que há alguma nisso tudo.  Olho ao redor e vejo o vinho que gostamos de tomar, e pergunto porque ele ainda está fechado. Pode ser o calor, este verão está infernal. Estava na cama deitada, tentando pensar numa saída, em alguma solução e tive de levantar. Ao lado da cabeceira, faz as vezes de um criado mudo meu baú de memórias. Porque não abri-lo?
Resgatar memórias passadas, cartas antigas não é  viver daquilo? Do passado? Elas balançam meu coração inconstante. Os desenhos dedicados, a música de Roberto pra mim.
Lembranças apenas. Não movem estes dias.
“língua de cobra”
“mais um sábado perdido”
Será de fato a medida de amar, amar sem medida. Se assim for, o que faço com estes números? Onde guardo as noites mal dormidas?

E se ainda houver amor.

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