sexta-feira, 11 de março de 2011

Nascido em 4 de julho

Dia 19 de julho de 2006, peguei meu cachorro pra viver conosco. Na verdade, penso que ele me escolheu. Estava quase trazendo aquele mais feinho e fraquinho – que ninguém quer, mas precisa pra se lembrar de que é humano – quando peguei o Krypto no colo e ele encostou sua cabeça em meu ombro. Branco de cabo a rabo, quinze dias de vida, a cabeça duas vezes o tamanho do corpo.. um legitimo vira-lata. O único sobrevivente de sete filhotes. Os outros morreram afogados, a mãe deles tentava os proteger de todos aqueles que não podiam esperar alguns dias até a amamentação terminar, escondendo a todos num buraco.. Infelizmente veio a chuva e ninguém viu a tempo. É acho que estão todos esperando até agora, é...
Seu nome, Krypto, quem escolheu foi meu marido que adora HQs e o achou muito parecido com o cachorro do Superman.
Apesar do triste fim de seus irmãos, que poderia ter sido o dele também, foi o Krypto quem me salvou. A vida de cada ser humano é singular, única. Suas experiências entretanto, são muito parecidas, lembram a da casa ao lado, a da nossa casa.
Assisti a pessoas escolhendo armas, lutas fatais apenas com palavras.
E de repente, eu tinha algo importante para fazer, e fiz sem perceber, e descobri algumas coisas que a gente só pondera depois como, ainda posso amar, ainda sei cuidar e já não estou tão ferida assim.
Adorava acordar todas as noites pra alimenta-lo, ver todos os dias ele andar pela casa parecendo um desses cachorros decorativos que balançam a cabeça sem parar na traseira do carro.. coloca-lo no bolso do meu jaleco enquanto trabalhava, tirar fotos de cada movimento novo que ele fazia... lembro-me da primeira vez que fez xixi com a perna levantada rsrsrsrs, filho da p#t@@, ele faz isso em cada lugar.
Eu apenas pensei como seria bom dividir todas as suas graças, toda essa sua felicidade canina, quase humana, com toda a pureza que esta palavra me remete quando ironicamente me esqueço de que foi feita para classificar um ser chamado gente, pessoa, tanto faz.
Krypto é um daqueles bons – e raros amigos – que nos acompanha numa cerveja, enxuga nossas lagrimas – bem, ele as lambe – e está presente nos vídeos de família, muito mais que tantos parentes.
É aquele nosso amigo mais intimo, nosso irmão mais próximo. Ele não se importa com o que você faz, não enche o saco como aquelas “amigas” que só sabem falar sobre cabelo, vestido e sapato ou aquelas outras desesperadas com o fim de um namoro e te ligam pedindo que as apresentem aquele amigo de seu marido... aquele um que ganha muito bem.
Para ele não importa se sou o filho preferido, a irmã mais bacana, se brigo com caras embriagados e jogo coisas no carro deles..  não contabiliza isso como um “ato grandioso”.
Ele não quer saber com quantos transei, ou em que lugares, se participo de algum programa social, se concorro ou se ganhei alguma bolsa para a faculdade.
Para ele pouco importa se sou boa em informática, tanto quanto aquele um.. se minha memória é boa – bem, nunca experimentei esquecer a ração dele - ....
Eu sento em frente ao meu computador e uso apenas. Não preciso me preocupar com ele na minha orelha querendo saber qual o processador, quantos GB , que merda de Windows tá instalado e me explicar por que a droga - que eu comprei - tá travando.
Passar um momento com ele é sempre muito prazeroso e isso não faz dele meu amigo de foda..
Krypto é uma representação fabulosa da imagem daquela pessoa que você adoraria ter ao seu lado pra passar um momento em silencio, observando a vida, contemplando, fazendo parte dela sem ter de se preocupar com o porquê de tudo que escolhe ou deixa de escolher.
Uma vez me questionaram: sente-se assim porque ele não fala?
Eu não falo fluentemente nenhuma outra língua se não o português, mas sinais são universais. Ao menos penso assim. E daí, como quando quem tem boca vai a Roma, quem tem expressão vai também ou se preferir à praça fazer um coco.
Pra ele não tem almas, sótão, porão... nothing about haven in hell.. aqui e lá se resume a onde ele está – e de preferencia que você esteja junto – onde dará sua próxima mijada e cadê minha bolinha.
Fato incontestável – ou não -: Ele é um cachorro – ou não.
Fato imutável: Todos os dias antes de dormir – apesar de não ser religiosa – desejo a ele que São Francisco o proteja e lhe de uma boa noite.
Só desejo que ele saiba da importância de sua existência para nós.
E quando ele ficar velhinho tenha ótimas histórias e lembranças de nós três juntos. Mas falta muito tempo pra isso ainda.
Eu sei que as vezes – muitas – ele vai me deixar P com tanta bagunça, arte, e mordidas por aí e em mim..
Mas quer saber, ele dá o tom nas diferenças presentes em meus dias por aqui.
Agora me vem a mente aquela musica: "...E hoje nos lembramos, sem nenhuma tristeza dos foras que a vida nos deu, ela com certeza estava juntando você e eu".
Te amo tanto seu cachorro!


Um comentário:

  1. Alguém sabe qual era a missão do Krypto? Ele parecia tão concentrado...

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